Sobre Karma



Comentários sobre Sri Ramakrishna:

 

Mahatma Gandhi (1869-1948); “A história da vida de Ramakrishna Paramahansa é a história da religião na prática. Sua vida permite-nos ver Deus face a face. Ninguém pode ler a história de sua vida sem ficar convencido de que só Deus é real e tudo o demais é ilusório. Ramakrishna foi uma viva personificação da Divindade”.

 

Arnold Toynbee (1889-1975); “A mensagem de Sri Ramakrishna foi qualquer coisa sem paralelo por sido expressa em ação... Religião não é um assunto apenas para estudo: é algo que tem que ser experimentado e vivenciado e este é o campo em que Sri Ramakrishna manifestou sua singularidade... Suas experiências e atividades religiosas foram deveras abrangentes, a um nível tal que antes, talvez, jamais tenham sido atingidas por qualquer gênio religioso na Índia ou em outros lugares.

 

Sri Aurobindo (1872-1950):... Sri Ramakrishna representa numa pessoa a síntese de todos os líderes. Ele é a prova do Poder existente por trás de nós e do futuro a nossa frente. Nascimento tão grande dá início a grandes acontecimentos... Ramakrishna Pramahansa é a condensação do Todo.

 

Romain Rolland (1866-1944): “O homem cuja imagem aqui evoco foi a consumação de dois mil anos da vida espiritual de trezentos milhões de pessoas. Embora tenha morrido há quarenta anos sua alma anima a Índia moderna. Não foi um brahmin de um pequeno vilarejo de Bengala cuja vida externa foi assentada numa estrutura limitada sem qualquer incidente notável. Mas sua vida interior abarcou toda a multiplicidade de homens e deuses.”

 

Rabindranath Tagore (1861-1941); “Ao Paramahansa Ramakrishna Deva:

Diversos cursos de adoração,

Mesclaram-se em Tua meditação,.

A múltipla revelação do êxtase do Infinito

Deu forma a um santuário de unidade em Tua vida,

De onde chegam saudações, distantes e próximas,

Às quais junto as minhas”.

 

Max Muller (1823-1900): ... “(Sri Ramakrishna) é uma maravilhosa mescla de Deus e homem”.

 

 

OS APÓSTOLOS DE SRI RAMAKRISHNA (Seus ensinamentos)

 

Swami Brahamananda: “Vive para o bem do mundo”

Para poder fazer bem ao mundo, deves ser perfeitamente inegoísta. Os que são do mundo procedem de tal maneira que, com freqüência, quando fazes bem a eles, em troca procuram causar-te dano. Já ouviste falar desta grande alma chamada Vidyasagar. Vivia unicamente para o bem do mundo e, no entanto, aqueles que eram beneficiados por ele, eram os mesmos que falavam mal dele, dizia: “Será que lhe fiz algum bem e está procurando ferir-me ? Essa é a natureza do mundo, mas em realidade, é que  aqueles que são bons, fazem o bem por sua natureza, e aqueles que são maus, farão dano seguindo também o impulso de sua própria natureza.

Certa vez, um santo sofreu grande dor. Pouco depois, o escorpião caiu novamente na água. O santo ajudou-o a sair, outra vez. O escorpião picou-o de novo. E isto voltou a acontecer por uma terceira vez. Um homem que havia estado observando como o santo ajudava o escorpião picou-o de novo. E isto voltou a acontecer por uma terceira vez. Um homem que havia estado observando como o santo ajudava o escorpião, perguntou-lhe: - “Por que ajudas ao escorpião,.visto que este te morde todas as vezes que o ajudas ? “O santo respondeu: - “É da natureza do escorpião o picar, e é de minha natureza fazer o bem. Se o escorpião não atraiçoa sua natureza, por que hei de negar a minha ?”

 

A mente dirige-se para cima ou para baixo. Inveja, egoísmo, desejo de prazeres sensórios, preguiça, são seus movimentos para baixo. Fé, devoção a Deus, amor, simpatia, etc, são seus movimentos ascendentes. Swami Abhedananda: “A virtude e o vício originam-se dos desejos. Não se pode ter paz enquanto se for escravo dos desejos. A paz é fruto do desapego. Paz significa: conquista dos desejos. E a forma de se conquistar os desejos é fazendo o bem ao próximo, esforçarmo-nos pelo bem-estar dos outros. Ao invés de pensarmos sobre nós mesmos deveríamos pensar no próximo. Isto induz a uma gradual eliminação do nervosismo mental”.

 

Swami Shivananda: “Não dê guarida ao desânimo. Isto torna a mente inquieta, agitada. Pensem sempre que vocês todos são abençoados, que são filhos do Senhor. Se maus pensamentos surgirem em suas mentes não lhes dêem atenção. Em nossas mentes existem acumuladas impressões de vidas passadas e, de vez em quando, elas afloram ao plano consciente. Tenham força, nada de medo.Vocês alcançarão  tudo no devido tempo”.

 

Swami Adbhutananda : “Nunca fale mal de ninguém, seja ele um devoto, um monge ou um simples chefe de família. Tampouco despreza quem quer que seja por um ato errado. Afinal de contas, todos são filhos do Senhor. Quem sabe se o pecado de hoje não o tornará um santo amanhã ?

 

Swami Trigunatitananda: “Deveríamos cultivar em nossas mentes, com grande constância, sinceridade e cordialidade, benevolência e boa vontade para com o próximo. Aquele que mantém sua mente ocupada com o bem querer aos outros, queima e reduz a cinzas milhares de suas próprias faltas e serão lembrados como santos. Por meio do bem querer e benevolência para com o próximo ascendemos da lassidão à atividade, da pobreza à riqueza, da miserabilidade à generosidade, da insignificância à fama e da ignorância à sabedoria; mais ainda: da mudez à oratória, permitindo ao coxo escalar montanhas. Tal é o poder do bem querer.

 

Swami Premananda: Aos pobres, doentes, decaídos e ignorantes, a todos eles você deve identificar-se como sendo sua própria família. E, não obstante, previno-lhe : por amar um segmento da sociedade você não pode detestar o outro, os ricos”.

 

Swami Saradananda: “Através do trabalho inegoísta a mente se purifica. E quando a mente se torna pura nela desabrocham o conhecimento e a devoção. O conhecimento é a própria essência do Ser, mas estando coberto pela ignorância não é manifestado. O objetivo do trabalho inegoísta é remover esta ignorância.

 

Swami Ramakrishnananda: “Suponha que uma caneta tenha consciência. Ela poderia dizer: - Escrevi centenas de cartas !  Mas o fato é que ela não escreveu nada e sim aquele que a segurava na mão. Da mesma forma, como somos conscientes, pensamos que fazemos tudo quando na realidade não somos senão um instrumento nas mãos de um Poder Superior. E é Ele quem faz todas as coisas...”

 

Swami Subodhananda: “Porquê as  pessoas perdem a paz mental ? Como podem ter paz aqueles que pensam maus pensamentos, falam coisas más e mantém suas mentes ocupadas, dia e noite, com assuntos frívolos? Faltam-lhes ideais, estão sempre guiados pelo que os outros dizem ou fazem. Aquele que é bom vê o mundo inteiro como bom enquanto que o ladrão considera a todos também como ladrões”.

 

Swami Vijnanananda: “Você é o amo integral de sua própria mente e pode molda-la à sua vontade. Quando a mente está completamente sobre sue controle ela nada terá com que subsistir exceto com pensamentos nobres. Da mesma forma que sabemos que o alimento pura e salutar é necessário a nossa existência física, assim também é fundamental nutrir a mente com pensamentos nobres e elevados ideais, recusando-se a provê-la com maus pensamentos e más associações que são como veneno para a mente”.

 

Swami Akhandananda: “A menos que se nos expanda o coração nada tem valor. Meramente sentar-se com os olhos fechados não produzirá frutos, não conduzirá à realização de Deus. Nossos corações têm que sentir pelo próximo; temos que nos identificar com a felicidade e com o sofrimento dos outros. Só então Deus será realizado.”

 Introdução; O hinduísmo acredita na doutrina de causa e efeito que em sânscrito é chamada karmavada – a teoria ou doutrina do karma. A palavra karma significa ação. Algumas vezes é usada querendo significar o efeito da ação De acordo com esta doutrina, todas as boas ações produzem bons efeitos e, as más ações, maus efeitos. Os efeitos ou frutos da ação são geralmente chamados karmaphala em sânscrito. Os frutos dos bons  atos trazem prazer e deleite a quem os faz, enquanto que os frutos das más  ações causam-lhe sofrimento e dor.

 

Os ‘físicos nos falam sobre a teoria da conservação de energia. De acordo com esta teoria a energia nunca é destruía, ao contrário, um tipo de energia torna-se transmutado em outro tipo de energia. Utilizando esta idéia como analogia, pode-se dizer que a energia despendida por qualquer ação de seu autor muda somente sua forma  e torna-se  uma força kármica ou karmaphala. Esta força, como um bumerangue, inevitavelmente retorna ao executante, mais cedo ou mais tarde. Ao retornar ao seu autor a força kármica começa a atuar em sua mente e corpo, causando-lhe seja prazer ou sofrimento. Ninguém pode escapar da força kármica que provocou. Após atura na mente e no corpo de seu autor a força kármica é consumida, esgotada; abandona-o, então, e torna-se parte de um vasto repositório de energia cósmica.

 

Segundo esta doutrina Deus não é responsável pelo prazer ou sofrimento de suas criaturas. As criaturas é que são responsáveis pelos próprios prazeres e dores. Sofrem ou gozam devido as consequências de suas próprias ações, boas ou más. Conforme o hinduísmo, deus é karmaphaladata – o dispensador dos frutos das ações. É o dispensador final de justiça.

 

SANCHITA KARMA E PRARABDHA KARMA

 

Algumas ações, devido à sua natureza intrínseca, produzem efeitos tardiamente. São como depósitos a prazo com longos prazos de vencimentos. Alguns deles podem ter seu vencimento daqui a muitos anos. Similarmente, frutos de algumas ações feitas há longo tempo podem não desabrochar na vida atual de que os produziu. Tais frutos – karmaphala – permanecerão armazenados até que chegue sua data de vencimento. Poderão vir numa futura vida de seu autor. Assim, no hinduísmo, a doutrina de karma está vinculada à doutrina de reencarnação.

 

Forças kármicas armazenadas são o efeito de atos realizados pelo executor em suas vidas passadas. Estas forças são chamadas sanchita karma ou forças kármicas acumuladas. Permanecem em estado  potencial exatamente como tantos depósitos bancários a prazo com diferentes datas de vencimento. Quando um deles vence, torna-se cinético e começa a atuar na mente e no corpo de seu autor. A força kármica que começou a produzir efeito. De acordo com o hinduísmo prarabdha karma:  é quem origina o nascimento de uma pessoa e determina o quanto ela viverá. Ela causa também prazer e sofrimento durante o tempo de vida dessa pessoa. Quando a força de seu prarabdha karma é exaurida, esgotada, seu corpo morre. É como se o corpo fosse um relógio cuja corda principal foi dada pelo prarabdha karma para que trabalhasse por um certo número de anos. Quando aquela energia é toda usada o relógio para.

 

 

KRIYAMANA (AGAMI) KARMA

 

Qualquer ação ou seu efeito na vida atual é chamado kriyamana karma ou agami karma em sânscrito. As escrituras hindus nos dizem que tipos de ação  feitos nesta vida produzirão efeitos imediatos. A pessoa que comete crimes extremamente horrendos como matar um indivíduo santo ou uma mulher, sofrerá seus maus efeitos ainda nesta vida. Outras ações, boas ou más, que são relativamente triviais, podem não gerar frutos imediatos. Estas ações vão se acumulando durante a vida da pessoa sob a forma de kriyamana karma até que finalmente juntam-se ao vasto depósito de sanchita ou karma acumulado.

 

 

SUICÍDIO – A concepção do hinduísmo

 

Se o indivíduo para seu “relógio corpóreo”  prematuramente, cometendo suicídio, incorre num grande erro. Sua força kármica não para com sua morte; continua acossando-o no outro mundo. Por causa dessa morte antinatural causada por si próprio, a força kármica inflinge-lhes muitas vezes mais sofrimentos e dores do que ele teria que suportar se estivesse vivo. Portanto, o hinduísmo condena veementemente o suicídio.                             

 

MORTE NA INFÂNCIA – A interpretação do hinduísmo

 

Sob a luz da reencarnação o hinduísmo não considera um recém nascido como sendo necessariamente uma alma “pura” ou  “inocente”. Tampouco acredita o hinduísmo que uma criança morta logo após o nascimento vá para o céu ou seja liberada. Cada nascimento é uma oportunidade para o indivíduo crescer e progredir espiritualmente através das experiências  amargas e doces da vida. Aqueles que morrem na infância não têm esta oportunidade. Uma pessoa com uma carga de mau karma a ser saldada pode nascer repetidas vezes e morrer várias e várias vezes em sua infância. Ela dissipa e exaure seu mau karma ao passar pelo doloroso processo de repetidos e infrutíferos nascimentos e mortes. A curta duração de sua vida na terra impede que ele faça qualquer progresso espiritual.

 

 

É POSSÍVEL UM SANTO TER DOENÇAS FÍSICAS E SOFRIMENTO MENTAL ?

 

Existe uma noção equivocada na mente de algumas pessoas de que um verdadeiro santo não pode sofrer qualquer doença física ou aflição mental. Esta idéia é baseada na suposição de que o santo, sendo perfeito, não pode sofrer como qualquer outra pessoa. Mas temos visto que muitos genuínos santos passam por vários sofrimentos físicos e mentais em suas vidas. O adágio “Todo santo teve um passado e todo pecador tem um futuro” pode explicar porque um santo sofre nesta vida. O santo deve ter feito alguns maus atos em uma ou mais de suas vidas passadas e está pagando os frutos daqueles atos nesta vida sob a forma de padecimento físico ou mental Muito embora seja hoje espiritualmente iluminado ainda tem que saldar seu prarabdha karma até que sua força seja exaurida.

 

Segundo a doutrina do karma, quando uma pessoa se torna um santo tendo atingido a máxima experiência espiritual, todo seu sanchita ou karma acumulado é, por assim dizer, transformado em cinzas. Mas ele não pode se livrar de seu prabdha karma até sua morte.

 

O hinduísmo utiliza uma bela analogia para explicar Ito: um caçador tem sua aljava cheia de flechas. Essas flechas são seus sanchita ou karma acumulado. Ele retira uma flecha  da aljava, coloca-a no arco e a dispara. A flecha por ele disparada é seu prarabdha karma: uma

Vez lançada de seu arco ele já não tem mais controle sobre ela. Depois de seguir pelo ar a flecha cai ao chão quando sua energia for completamente dissipada. Prarabdha karma é como a flecha sob a qual o caçador não tem mais comando. Prarabdha karma cria um corpo humano e prossegue trazendo-lhe prazer e dor até que sua força kármica esteja dissipada e, então, o corpo morre. Até mesmo os santos é aquele que viu Deus face a face nesta vida. Diz-se, também, que um santo é aquele que alcançou a perfeição pela manifestação de sua inerente divindade.

 

 

 

A ENCARNAÇÃO DIVINA ESTÁ ALÉM DAS FORÇAS KÁRMICAS

 

Existe, contudo, uma exceção a esta regra. Uma Encarnação Divina nunca é controlada ou sujeita às forças de karma e tampouco seu corpo é oriundo de qualquer prarabdha karma. Para se encarnar na terra sob forma humana Deus cria um corpo terreno para si mesmo, através de seu inexcrutável poder mágico, ou maya, e incorpora-se nele. Por  compaixão às Suas criaturas, que Nele tomam refúgio, Ele absorve seus pecados ou mau karma em Seu corpo terreno e sofrem em seu lugar. Ele esgota seus maus prarabdha karmas para lhes dar alívio e salvação. A Encarnação Divina não gera karmaphala por qualquer ato que faça durante sua existência terrena.

 

 

SOFRIMENTO NO NASCIMENTO, VISTO SOB A LUZ DE KARMA E REENCARNAÇÃO

 

A razão pela qual uma criança nasce cega e uma outra nasce com um corpo perfeito não pode ser explicado dizendo-se que isto acontece pela vontade de Deus. Se assim o fosse Deus seria preconceituoso ou caprichoso. O hinduísmo explica esta disparidade com os seguintes termos: reencarnação e doutrina do karma. A criança nasceu cega como resultado de maus atos feitos em prévias encarnações. O karmaphala armazenado de nascimentos anteriores tomou forma como cegueira nesta vida.

 

 

AS FORÇAS CÓSMICAS NÃO GOVERNAM COMPLETAMENTE AS VIDAS HUMANAS

 

Deve-se deixar bem claro que o hinduísmo jamais diz que tudo o que acontece na vida de uma pessoa é o resultado de suas ações de vidas passadas. A força kármica é “apenas uma das muitas forças que controlam a vida do ser humano. Apesar dessas forças que nele atuam, ele tem também bastante liberdade de ação. Esta liberdade deveria ser empregada atuando de tal forma que lhe evitasse sofrimentos e dores no futuro e que o ajudasse a alcançar a liberação através da realização de Deus.

 

As escrituras do hinduísmo, particularmente o Bhagavad Gita, dizem-nos também que o indivíduo pode livrar-se de todas as suas forças kármicas – exceto aquelas do prarabdha – se efetuar suas atividades sem esperar pelos frutos de suas próprias ações. Ao devoto de Deus, encoraja-se que assuma a atitude de que suas ações não são para causa própria mas sim para o deleite de Deus. O trabalho realizado com esta atitude ajuda-o a livrar-se dos efeitos posteriores de suas ações – kriyamana karma – feitos nesta vida. Mas ainda: purifica sua mente e, portanto, permite-lhe ter a visão de Deus. Em seguida a esta visão ele se liberta de todo seu sanchita ou karma acumulado. E assim alcança liberação dos repetidos ciclos de nascimentos e mortes. Não obstante, ele tem que esgotar seu prarabdha karma de cujas garras nenhum mortal pode completamente escapar. Alguns dizem, contudo, que mesmo não podendo livrar-se integralmente do próprio prarabdha karma, a intensidade de sua força pode ser consideravelmente reduzida se ele se entregar totalmente a Deus, Shri Sarada Devi (1853-1920), uma das mulheres mais santas da Índia, apóia este ponto de vista. Ela diz: “Pela entrega a Deus o devoto pode consideravelmente reduzir seu prarabdha karma. Por exemplo: se lhe coubesse o destino de ser ferido por uma espada devido a sua força kármica, ele terá apenas uma picada de alfinete.”

 

A GRAÇA DE DEUS NO HINDUÍSMO

 

Sob  o enfoque da doutrina do karma pode parecer que o homem é responsável pelo que lhe aconteça nesta vida, em forma de prazer ou de dor. Uma vez que Deus é tão somente o doador do karmaphala do homem, seu papel não seria diferente de uma caixa de banco.  O caixa não pode dar ao depositante senão o seu capital investido e seus juros. Onde então estaria o campo de ação para a graça de Deus no hinduísmo ? Em resposta o hinduísmo diz que a graça de Deus não pode ser condicional. Qualquer dádiva condicional não pode ser chamada verdadeiramente de graça. Portanto, a graça de Deus tem que ser incondicional, imparcial e sem preconceitos. Tal como o sol brilha tanto para o bom como para o mau, assim também Deus derrama sua graça imparcialmente sobre todos, sejam bons ou maus. O bom utiliza a graça de Deus para bons propósitos; o mau utiliza a mesma graça para maus propósitos.

 

Shri Ramakrishna explica isto com a ajuda de uma linda analogia: “Num pequeno quarto uma vela está acesa. Sob a luz da vela uma pessoa está lendo um livro sagrado enquanto outra pessoa, no mesmo quarto e sob a mesma luz, está falsificando o dinheiro. Nesta analogia a luz da vela representa a graça de Deus. Ela é imparcial; brilha igualmente para ambos. As duas pessoas estão utilizando a mesma graça de Deus para propósitos completamente diferentes, um bom, outro mau. Eventualmente, talvez um deles se transformará num santo enquanto o outro terminará numa prisão.

 

Conforme Shri Ramakrishna, “a brisa da graça de Deus está continuamente soprando”. Todos nós neste mundo somos como proprietários d eum barco a vela. Enquanto a vela do barco não estiver desenrolada não se pode tirar proveito da graça de Deus. Mas tão logo a vela é desamarrada e solta, a brisa da graça divina começa a mover o barco. Nesta analogia, o ato de desenrolar a vela não é senão o fazermos auto-esforço. Sem auto-esforço não se consegue apreciar e muito menos deleitar-se com o benefício da graça de Deus.

 

(No próximo enfoque do hinduísmo sobre a teoria da reencarnação)

 

Excertos:

 

Mahatma Gandhi: As sete formas de pecado público

 

  1. Política sem princípios
  2. Riqueza sem trabalho
  3. Instrução sem caráter
  4. Comércio sem moralidade
  5. Ciência sem humanismo
  6. Prazer sem escrúpulo
  7. Culto sem sacrifício

 

Robert Browning:

Ao longo da estrada

Caminhei um quilómetro com o Prazer,

Conversando todo o trajeto.

Mas nem por isso fiquei mais sábio

Com tudo o que ele me disse,

Caminhei um quilómetro  com o Sofrimento

Sem trocarmos uma única palavra.

Mas, oh, as coisas que aprendi

Quando o sofrimento comigo andou !

 

Semeia um pensamento e colherás um ato,

Semeia um ato e colherás um hábito.

Semeia um hábito e colherás um caráter.

Semeia um caráter e colherás um destino.

 

Para todo problema existe solução.

Se existe solução, busque-ª

Se não houver solução, não se preocupe.

Se você não se preocupar não haverá problema.

 

HARMONIA DAS RELIGIÕES

 

Shri Ramakrishna sempre enfatizava a harmonia das religiões visto que ele as havia praticado todas e nelas realizado a mesma meta final; o Absoluto, Swami Vivekananda, por sua vez, não tolerava que se criticasse – nem mesmo em pensamento – qualquer religião ou seita por mais primitiva que pudesse parecer. Com as outras religiões, dizia ele, devemos ter profunda simpatia e não tolerância, pois tolerância pressupõe a superioridade daquele que tolera e, isto, ele não admitia. Transcrevemos abaixo alguns ideais comuns às várias religiões.

 

CRISTIANISMO – Tudo o que desejardes que os outros façam para vós, fazei-o vós mesmos para eles... eis a lei e os profetas (Bíblia).

 

JUDAÍSMO – O que julgares nocivo, não faças a teu próximo. Toda lei sta contida aí e o resto é apenas decorrência. (Talmude).

 

BRAHMANISMO -  esta é a suma do dever: não faças aos outros o que a ti mesmo desagradaria... (Mahabharata).

 

ISLAMISMO – Nenhum de vós é um crente se não deseja para seu irmão o que deseja para si mesmo. (Alcorão)

 

TAOÍSMO – Considera que o teu vizinho lucra com o teu lucro e que perde com as tuas perdas. (Tão Te King)

 

BUDISMO  - Não faças a teu próximo aquilo que magoaria a ti mesmo. (Dharma)

 

CONFUCIONISMO -  Eis certamente a máxima do amor: não fazer aos outros o que não queremos que eles nos façam (Analectos).

 

 

HARMONIA DAS RELIGIÕES II

 

RIG VEDA - “No princípio era Prayapati (Brahman, o Supremo); a Palavra era com Ele, e a Palavra era verdadeiramente o Supremo Brahman”.

 

QUARTO EVANGELHO SEGUNDO S.JOÃO – “No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus.”

 

HARMONIA DAS RELIGIÕES III

 

Rama, a Encarnação Divina, perguntou certa vez ao seu grande devoto Hanuman: - “De que maneira tu me consideras ?”A belíssima resposta de Hanuman abarca e concilia as três escolas do pensamento filosófico hindu (dualismo, monismo qualificado e monismo puro); - “Quando estou possuído de consciência física, considero-Te como meu Amo e a mi como Teu servo. Quando me sinto como uma alma individual, Tu és o Todo e eu uma patê de Ti. Quando me tenho em conta como o Atman, sou Uno Contigo.”

 

De Swami Vivekananda, sobre Jesus: “Às massas que não podiam compreender nada mais elevado que um Deus pessoal, dizia: “Rogai a vosso Pai que está nos  céus”. A outros, que podiam fazer uma idéia mais elevada, dizia: “Eu sou a videira e vós sois os galhos.”Porém, para os discípulos a quem Ele se revelava mais plenamente, proclamava a verdade maior: “Eu e o meu Pai somos Um”.

 

“O talento para preencher inteligentemente as horas de lazer é o supremo ganho da civilização; e, nos dias atuais, pouquíssimas pessoas atingiram este nível” Bertrand Russel.

 

“Neste mundo passageiro em que tudo desaparece, devemos fazer o mais elevado emprego do tempo que temos.”Swami Vivekananda.

 

“Nosso caráter é aquilo que fazemos quando sabemos que ninguém está nos olhando.” V. Kesari, Oct. 1994.

 

“Ela está no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a UTOPIA? Serve para isso: para caminhar !” - Eduardo Galeano

 

“Dinheiro lhe permite comprar uma cama, mas não o sono; alimentos, mas não apetite; cosméticos, mas não felicidade; livros, mas não sabedoria. Ah ! sim, e também não importa quão calorosamente você abrace o dinheiro, ele jamais lhe abraça de volta. “Vedanta Kesari, Mar.95.

 

“No que concerne à leitura deveríamos ter em mente a meta principal de nossa vida e selecionar o que lhe seja afim. Então, o resultado será lago integrado, coerente e, portanto, sólido. Esta solidez de conhecimento e convicção nos dará, também, vigor ao nosso caráter como um todo.”Teophano o Recluso. V.Kes., Mar.95.

 

“Religião é para aqueles que têm medo de ir para o inferno. Espiritualidade é para aqueles que sabem que já estiveram lá – provavelmente por causa de seu envolvimento com religião.” Fr Patrick Collins, Universidade de Notre Dame, USA P Bharatta, aug. 1994.

 

“A maior descoberta da minha geração é que os seres humanos podem transformar suas vidas transformando suas atitudes mentais. “ Pravrajika Brahmaprana, Vedatna Kesari, Oct.94.

 

Honradez; Estando o Khalifa Hazarat Ali examinando alguns papéis em seu trabalho para o governo, aconteceu que um cavalheiro veio procura-lo. Vendo que o visitante viera discutir assuntos pessoais, Hazarat imediatamente apagou a lamparina que estava usando e acendeu outra. Aquele ato despertou atenção do visitante mas ele se absteve de comentá-lo.

 

Terminada a conversa, Hazarat novamente acendeu a primeira lamparina e apagou a segunda. Aquilo foi demais para a curiosidade do visitante que não resistiu e perguntou a Hazarat a razão de eu estranho procedimento, Hazarat explicou-lhe “- Quando o senhor chegou eu estava efetuando um trabalho oficial e usava a lamparina fornecida pelo governo. Como poderíamos gastar o dinheiro do governo para nossos assuntos pessoais ? Portanto, durante nossa conversa pessoal, utilizei minha própria lamparina gastando meu próprio óleo.”Prabuddha Bharata, Aug. 1994.

 

“Perguntaram certa vez a Alexandre: - Porquê tu mostras mais respeito e reverência ao teu instrutor do que ao teu pai ? Ele respondeu: - De meu Mestre obtenho a vida eterna; de meu pai uma existência perecível. Além do mais, meu pai trouxe-me do Céu para a Terra, mas Aristóteles elevou-me da Terra ao Céu. P. Bharata, Oct.94.

 

“A perfeição consiste não em fazer coisas extraordinárias mas em fazer coisas ordinárias extraordinariamente bem. Não se deve negligenciar nada; as ações mais triviais devem ser realizadas para Deus. “Angelique Arnaud.

 

 

AS ENCANTADORAS HISTORINHAS DE SHRI RAMAKRISHNA

 

1)    OS DOIS AMIGOS

 

O progresso espiritual da pessoa depende da sua condição mental e modo de pensar. Procede do seu coração, e não dos seus atos externos. Dois amigos, enquanto passeavam juntos, passaram por lugar onde se comentava o Bhagavata Purana (texto sagrado). Disse um deles: “Bem  vamos ali um instante para ouvirmos a sagrada escritura. “O outro retrucou: “Não amigo, de que serve ouvir o Bhagavata? Em frente há um bordel com lindas mulheres, vamos lá nos divertir e gozar”. Não consentiu nisso o primeiro, e foi escutar o Bhagavata. O outro entrou no bordel, mas não achou o prazer que acreditara encontrar. Começou então a pensar: “Ai de mim ! Por que vim aqui ? Quão feliz deve sentir-se o meu amigo ouvindo a sagrada vida do Senhor Hari”. Deste modo, ele meditava em Hari, conquanto estivesse em lugar impuro. O outro homem, que tinha ido ouvir o Bhagavata Purana, tão pouco estava contente, e começou a reprochar-se a si mesmo, dizendo: “Ai! Quão estúpido sou por não ter acompanhado o meu amigo. Ele estará desfrutando ali de todos os prazeres !” O resultado foi que só estava sentido nesse lugar onde se lia o Bhagavata, mas sua mente pensava continuamente nos prazeres que poderia ter gozado na casa de prostituição. Manchou-se portanto a sua mente com todos esses pensamento e teve que arcar com o pecado de aparecer no bordel, embora li não fosse em pessoa. Em troca, o encontrasse em lugar impuro, o seu coração meditava sem cessar no livro sagrado.

 

 

2)    LEÃO –CORDEIRO

 

Uma vez, uma leoa grávida atacou um rebanho de ovelhas. Ao saltar no meio do rebanho, deu à luz um filhote e morreu imediatamente, após o parto. Mas o filhotinho sobreviveu e foi adotado pelas ovelhas. Cresceu entre elas e absorveu seus hábitos. As ovelhas pastavam e ele fazia o mesmo; elas davam balidos e ele as imitava. Com o passar do tempo, converteu-se o filhote em enorme leão. Um dia, outro leão chegou ao lugar e atacou o rebanho, mas surpreendeu-se ao perceber outro leão pastando entre as ovelhas. Agarrou-o pelo pescoço e o jovem leão começou a balir como uma ovelha. O velho leão, entretanto, arrastou-o até uma laguna e, mostrado-lhe as imagens de ambos refletidas na água, disse: “Olha, tua forma é similar à minha. És leão como eu. Come este pedaço de carne”. Dizendo isto, pôs-lhe a carne na boca à força. A princípio, não quis o jovem leão come-la de nenhum modo. Balia e dizia ser  ovelha. Mas, à medida que passou a sentir o gosto de sangue, despertou-se o seu instinto latente e principiou a comer a carne. Então, falou o velho leão: “Compreende agora que és igual a mim? Portanto, vem comigo à selva”. Do mesmo modo, se recebeste a graça do guru, já não tens por que temer. O guru abrir-te-á os olhos, dir-te-á quem és e o que é teu verdadeiro Ser.

 

 

3)    O LENHADOR  E O SANNYASIN

 

Vida miserável levava um lenhador com os escassos meios que obtinha, vendendo lenha trazida de floresta próxima. Certa ocasião passou por ali um sannyasin (monge) e, vendo o lenhador, aconselhou-lhe caminhar  mais para o coração da floresta, garantindo-lhe que sairia ganhando. O lenhador obedeceu, e, internando-se no bosque, chegou a lugar onde havia muitos pés de sândalo. Cortou os ramos que pode e os levou ao mercado, onde a venda lhe daria grande lucro. Começou então a cogitar porque o sannyasin não lhe mencionara as árvores de sândalo e simplesmente o induzira a penetrar mais na floresta. No dia seguinte, o lenhador foi além do ponto onde se achava o sândalo e encontrou uma mina de cobre. Sacou todo o metal possível, levou-o ao mercado e aí o vendeu, conseguindo muito dinheiro.  No outro dia, sem se deter na mina de cobre, seguiu para frente, de acordo com o conselho do sannyasin, e achou uma mina de prata. Amealhou toda a prata que pode e logrou muito dinheiro ao vende-la. E assim, dia após dia, foi-se internando cada vez mais na floresta; encontrou minas de ouro e diamante, e, afinal tornou-se imensamente rico,. Sucede o mesmo ao homem que aspira à Sabedoria. Se alguém não se detém no seu avanço por haver ganho algum poder extraordinário ou sobrenatural, é certo que chegará a obter a verdadeira riqueza do eterno Conhecimento e a suprema Verdade.

 

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